Uma pesquisa recente revela que, assim como os humanos, os felinos também podem sofrer com a perda de seus companheiros animais. O estudo, apresentado pelas pesquisadoras Brittany Greene e Jennifer Vonk, do Departamento de Psicologia da Oakland University, em Michigan, EUA, foi publicado em agosto de 2024 pela Elsevier e traz o título “Is companion animal loss cat-astrophic? Responses of domestic cats to the loss of another companion animal” (A perda de um animal de companhia é catastrófica? Respostas de gatos domésticos à perda de outro animal de companhia, em tradução livre). A pesquisa indica que gatos domésticos podem exibir comportamentos semelhantes aos de luto após a morte de um animal com quem conviviam.
Embora o estudo do luto em animais não-humanos tenha sido historicamente baseado em evidências anedóticas, pesquisas recentes sugerem que a experiência psicológica da perda pode ser mais comum no reino animal do que se pensava. O foco desse levantamento foi entender como os gatos sobreviventes reagem à perda de um companheiro animal no mesmo ambiente doméstico. Para isso, foram analisadas respostas de 412 responsáveis de gatos, totalizando 452 felinos, que relataram como os gatos sobreviventes se comportaram após a morte de outro animal no lar.
Os resultados mostraram que, quanto mais tempo os gatos passavam interagindo com o animal falecido diariamente, maiores eram as chances de os responsáveis perceberem comportamentos de luto, como aumento do medo e mudanças nas rotinas de sono, alimentação e brincadeiras. Além disso, gatos que tinham um relacionamento positivo com o companheiro falecido apresentaram diminuição nessas atividades. Em muitos casos, os entrevistados relataram que os felinos buscavam mais atenção dos humanos e de outros animais após a perda.
Outro dado relevante revelado pela pesquisa foi que, quanto maior o tempo de convivência dos gatos com o animal falecido, mais os responsáveis observavam comportamentos de busca por atenção. No entanto, as autoras destacam a possibilidade de antropomorfismo, ou seja, quando os responsáveis projetam seu próprio luto nos gatos. Essa hipótese é reforçada pelo fato de que responsáveis que vivenciavam o luto mais intensamente relatavam que seus gatos passavam mais tempo sozinhos, escondidos e dormindo, além de parecerem estar à procura do companheiro perdido.
Por outro lado, entrevistados que mantinham um vínculo menos seguro com o gato falecido relataram menos comportamentos relacionados ao luto no gato sobrevivente, sugerindo que a percepção de luto pode ser influenciada pela qualidade do relacionamento entre responsável e animal. Este é apenas o segundo estudo conhecido a explorar como os gatos domésticos reagem à perda de outro animal de companhia, mas já apresenta paralelos com pesquisas anteriores que analisaram o luto em cães. Assim como os cães, os gatos demonstraram comportamentos de luto como menor interação social, aumento do isolamento e maior busca por atenção de seus responsáveis ou outros animais.
Pesquisas anteriores sugerem que o luto tem uma função adaptativa em várias espécies, incluindo mamíferos, e pode ter raízes evolutivas relacionadas à manutenção de laços sociais. Embora os gatos tenham evoluído de espécies selvagens mais solitárias, o estudo revela que os felinos domésticos, ao viverem em colônias ou em lares humanos, podem também desenvolver comportamentos de luto.
Esse levantamento abre portas para futuras investigações sobre o luto em gatos e como essas respostas comportamentais podem ser um reflexo de uma experiência emocional genuína ou uma projeção dos sentimentos dos responsáveis. O estudo sugere a necessidade de mais pesquisas para determinar se os gatos, de fato, vivenciam o luto ou se os comportamentos observados são resultado da interação complexa entre o responsável e o animal após a perda.
A médica-veterinária Rita Ericson, mestre em comportamento animal, explica que é difícil ter certeza se as mudanças de comportamento em gatos, como vocalização aumentada, isolamento ou busca por atenção, estão diretamente relacionadas ao luto ou à percepção dos humanos. “Pode ser que o gato esteja reagindo à ausência de um indivíduo com quem tinha um vínculo afiliativo, mas também há a possibilidade de que o comportamento seja influenciado pela forma como os humanos lidam com a perda,” afirma.
Rita também ressalta que, para lidar com a perda de um companheiro, é importante proporcionar aos animais uma rotina enriquecida com brincadeiras e estímulos positivos. “No caso dos cães, por exemplo, evitar repetir o nome do animal falecido e disfarçar a tristeza pode ajudar a reduzir o impacto emocional nos pets, já que eles são muito sensíveis às emoções dos responsáveis,” orienta.