Calor excessivo afeta produção de ovos e pressiona preços no mercado interno

O aumento expressivo no preço dos ovos no início de 2025 tem preocupado consumidores e produtores. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP), o preço da caixa com 30 dúzias de ovos extra branco em algumas cidades do Brasil chegou a R$ 194,16, com alta de 36,5% em relação a janeiro e de 17,4% na comparação com o mesmo período de 2024. Mas quais fatores estão por trás desse cenário?

A médica-veterinária e presidente da Comissão de Agropecuária e Agroindústria do CRMV-RJ, Juliana Virginio, explica que o estresse térmico é um dos principais desafios enfrentados pela avicultura de postura, especialmente em regiões de clima tropical.

“Sabemos que os elementos climáticos que mais afetam o desempenho das galinhas poedeiras são a temperatura ambiente, umidade relativa e a velocidade do ar. Quando as aves são submetidas a temperaturas elevadas, elas começam a ter dificuldade na dissipação de calor, o que pode comprometer seu bem-estar e produtividade”, afirma.

O mês de janeiro de 2025 foi o mais quente da história, com temperaturas acima de 30ºC em importantes polos produtores de ovos, como o interior de São Paulo. Juliana destaca que as galinhas não transpiram, dissipando calor por meio da evaporação respiratória e cutânea, além da perda de calor sensível por radiação, convecção e condução.

“As aves respondem negativamente às variações bruscas de temperatura ambiente, e sabemos que no Brasil, a amplitude térmica de algumas regiões chega a ser maior que 20ºC”, completa.

As principais consequências do desconforto térmico em aves de postura incluem:

– Queda no consumo de ração: a ingestão reduzida compromete a absorção de nutrientes essenciais.
– Maior consumo de água: mecanismo natural para compensar a perda de líquidos pela respiração ofegante.
– Aceleração do ritmo cardíaco: resposta ao estresse calórico, aumentando a demanda metabólica.
– Alteração da conversão alimentar: menor eficiência na utilização dos nutrientes.
– Queda na produção de ovos: devido à menor disponibilidade de energia e nutrientes para a oviposição.
– Maior incidência de ovos com casca mole: resultado da baixa absorção de cálcio e alteração do metabolismo mineral.

Para minimizar os impactos do calor e garantir a produtividade e o bem-estar animal, a médica-veterinária indica algumas estratégias, como ventilação e controle de temperatura: o uso de ventilação forçada e nebulização auxilia na redução da temperatura interna dos aviários; densidade adequada: manter o número adequado de aves por metro quadrado para permitir boa circulação de ar e bem-estar; fornecimento de água fresca: garantir abastecimento adequado nos picos de consumo, cobrindo caixas d’água e tubulações para evitar superaquecimento; manejo alimentar: oferecer a ração mais de duas vezes ao dia para estimular o consumo, considerando os horários mais frescos; e ,onitoramento das aves: observar sinais de estresse térmico, como respiração ofegante, asas erguidas e fraqueza, ajustando as condições do ambiente conforme necessário.

Outro fator relevante é a crescente demanda por exportação de ovos e derivados. Dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) mostram que as exportações brasileiras de ovos (entre in natura e processados) somaram 2.054 toneladas em dezembro de 2024, um crescimento de 116,8% em relação ao mesmo mês do ano anterior.

Com a oferta doméstica pressionada por esse aumento das exportações e o impacto do calor extremo na produção, o mercado interno deve sentir reflexos nos próximos meses. A adoção de boas práticas de manejo e o investimento em tecnologias para mitigar o estresse térmico são medidas fundamentais para assegurar a sustentabilidade da avicultura de postura no Brasil.

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