Em celebração ao Mês da Mulher, o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro (CRMV-RJ) destaca a notável atuação da Tenente-Coronel (TC) Márcia Freitas de Hollanda Cavalcanti. No cenário árido e desafiador do Saara Ocidental, a médica-veterinária e Observadora Militar na Missão das Nações Unidas para o Referendo no Saara Ocidental (MINURSO) desenvolveu um projeto de bem-estar animal que agora recebe apoio da organização. Sua atuação reforça o impacto da Medicina Veterinária em operações internacionais e serve de inspiração para futuras missões.
A MINURSO, estabelecida em 1991 para supervisionar o cessar-fogo entre Marrocos e a Frente Polisário, conta com uma equipe multifacetada de militares brasileiros, cuja atuação vai além da segurança e monitoramento. Entre eles, a TC Márcia se destacou ao perceber a falta de cuidados médicos preventivos e o descontrole populacional de cães e gatos que convivem com os militares, essenciais no controle biológico de vetores, como escorpiões e serpentes do deserto, reduzindo o risco de acidentes e contaminações alimentares. Além. Além disso, sua presença contribui para a saúde mental e o bem-estar psicológico dos observadores em um ambiente isolado e desafiador.
Diante desse cenário, a TC Márcia, durante um período de licença no Brasil, trouxe suprimentos para a castração de animais e medicamentos para o controle de parasitas. Ao retornar à missão, realizou com sucesso os primeiros procedimentos cirúrgicos, enfrentando desafios logísticos e a dificuldade de capturar os animais, muitos dos quais são ariscos e desconfiados.
“Os principais desafios no início foram a logística e a captura dos animais. Tive receio, inicialmente de ser parada na alfândega ou no controle sanitario em Casablanca (Marrocos) ao transportar os medicamentos e material do Brasil, visto que alguns produtos não são comercializados no país, mas felizmente, não houve problemas. No entanto, a maior dificuldade — que persiste até hoje — é capturar os animais. O processo de captura é desgastante e demorado, exigindo paciência e cooperação. No entanto, nem sempre é fácil conseguir ajuda, seja pela falta de experiência das pessoas com animais, pelo medo ou até por questões culturais e religiosas, já que em algumas tradições esses animais não são bem vistos”, relata a Tenente-Coronel.
O sucesso dessa ação levou à criação do Projeto de Bem-Estar Animal, agora financiado pela missão. A iniciativa, que se baseia no controle populacional e na saúde preventiva, adota a abordagem de “Uma Só Saúde”, termo também conhecido como One Health, que integra a saúde humana, animal e ambiental, contribuindo para a segurança biológica da missão.
“O cuidado médico-veterinário, tanto preventivo quanto curativo, é fundamental para preservar a saúde da tropa e garantir a segurança biológica da missão. No entanto, ainda há muito a ser feito. Os Team Sites estão situados no meio do Deserto do Saara, um ambiente onde os gatos têm liberdade para fazer suas necessidades básicas, defecar em qualquer lugar, transformando o solo em um potencial reservatório de parasitas. Esse cenário aumenta significativamente o risco de transmissão de zoonoses, como a larva migrans cutânea, que pode afetar os militares, especialmente porque atividades de lazer, como caminhadas e vôlei, são frequentemente realizadas com calçados abertos. O controle sanitário dos animais, portanto, é essencial para minimizar esses riscos e contribuir para o equilíbrio ecológico da missão”, afirma Márcia.
A experiência da TC Márcia exemplifica o impacto positivo que a Medicina Veterinária pode ter em missões de paz, mostrando como a atuação profissional de médicos-veterinários vai além dos cuidados tradicionais, contribuindo para a saúde e bem-estar tanto dos animais quanto dos militares.