Morte por raiva humana alerta para os riscos de interação com saguis

Uma mulher de 56 anos faleceu no último sábado (11), após contrair raiva humana. Este é o primeiro caso da doença registrado em oito anos no estado de Pernambuco. A contaminação ocorreu após a mulher ser mordida na mão esquerda por um sagui em 28 de novembro de 2024.

Embora tenha procurado atendimento médico logo após o incidente e recebido orientação para tomar soro antirábico e quatro doses da vacina, a paciente não retornou para continuar o tratamento. O quadro clínico se agravou quase um mês depois, e ela foi transferida para um hospital de referência em doenças infectocontagiosas em 31 de dezembro.

Segundo os relatórios médicos, a paciente apresentava dormência, dores e fraqueza muscular. Em 2 de janeiro, o quadro evoluiu para uma condição neurológica grave com insuficiência respiratória, culminando no óbito.

De acordo com o Ministério da Saúde, entre 2010 e 2024, foram registrados 48 casos de raiva humana no Brasil. Desses, 24 foram causados por morcegos, nove por mordidas de cães, seis por primatas não-humanos, quatro por felinos, dois por raposas e um por bovino. Em outros dois casos, o animal agressor não foi identificado.

Renata Vitória Campos Costa, médica-veterinária da Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro (SEAPPA – RJ), lotada no Núcleo de Defesa Agropecuária de Valença (RJ), e membro da Comissão de Saúde Única do CRMV-RJ, destacou a importância de conscientizar a população sobre os riscos de interações com animais silvestres, como os saguis.

“Não se sabe exatamente como ocorreu o acidente, se foi por tentativa de carinho, manuseio ou outra interação, visto que ela era uma agricultora. O que acontece frequentemente é que as pessoas, por curiosidade, acabam se aproximando desses animais, que são pequenos, bonitos e interessantes. Aqui no Rio de Janeiro, temos uma quantidade enorme de saguis em florestas e até em locais turísticos. Muitas vezes, eles se aproximam porque recebem alimentos das pessoas. Crianças, adolescentes ou mesmo adultos, por desconhecimento dos riscos, não têm receio e tentam alimentá-los ou tocá-los. Isso aumenta muito o perigo”, disse.

Ela também alertou sobre o risco específico dos saguis como transmissores da raiva.

“Esses primatas são reservatórios naturais do vírus da raiva. Assim como outros mamíferos silvestres de vida livre, podem transmitir o vírus se estiverem infectados. Mesmo ao tentar tirar uma foto, o animal pode se sentir acuado, irritar-se e atacar. Por isso, é importante evitar qualquer contato com esses animais”, emendou.

Renata ainda explicou que, caso aconteça algum acidente com animais mamíferos silvestres, o primeiro passo é lavar imediatamente o local com água e sabão, ainda no local ou ao chegar em casa. Em seguida, é imprescindível procurar a unidade de saúde mais próxima, informando o ocorrido. Lá, será avaliada a necessidade de vacinação, soro ou ambos. O atendimento médico deve ser imediato e o relato detalhado sobre o tipo de animal envolvido é fundamental para definir a melhor conduta.

A médica-veterinária também enfatizou a obrigatoriedade de notificação desses casos.

“Esses acidentes são de notificação obrigatória. A unidade de saúde registrará que a pessoa sofreu um acidente envolvendo um animal silvestre com risco de transmissão de raiva, como saguis, raposas ou morcegos. Esse procedimento é essencial para que a profilaxia antirrábica mais adequada seja indicada”, concluiu,

A raiva é uma doença grave, que pode ser prevenida por meio da imunização adequada após exposição ao vírus. O CRMV-RJ reforça a importância de buscar atendimento imediato em casos de contato com animais suspeitos, seguir as orientações dos profissionais de saúde e completar o protocolo de tratamento.

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