“Minha jornada na medicina veterinária começou mais tarde que o normal”, conta Shihane Mohamad (CRMV-RJ 16211), destacando sua decisão de mudar de área após experiências transformadoras na Amazônia. Mesmo enfrentando desafios como mãe de dois filhos pequenos, ela perseverou em sua busca pelo conhecimento e pela realização profissional.
Antes de ingressar na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal Fluminense (UFF), a profissional conta que cursou Engenharia de Produção na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e Química, na própria UFF.
“Após 45 dias participando de um projeto de extensão em Oriximiná, uma cidade no oeste do Pará, no coração da Amazônia, decidi largar tudo e cursar Medicina Veterinária. Eu já era casada, tinha 27 anos e tinha planos de ter um filho antes dos 30. A partir desse momento, minha vida passou a ser mais corrida que o normal e eu comecei a me preparar para os desafios que certamente viriam. Ao longo da graduação me tornei mãe de um casal”, disse.
E continuou: “Foram muitas noites em claro, pois era o momento que eu tinha para estudar, após cuidar das crianças. Eu precisei me afastar deles para concluir o estágio supervisionado, que foi todo fora da capital. Eles ainda eram pequenos e isso exigiu muito de nós. Penso que esse foi o maior desafio: eu poderia desistir de tudo, poderia estagiar em algo que não me fizesse feliz ou poderia seguir um sonho e, futuramente, isso serviria de exemplo para meus filhos”.
Durante a pandemia, Shihane enfrentou um de seus maiores desafios, equilibrando suas responsabilidades profissionais com o cuidado de sua família. Ela conta que nesse período se preocupava com a saúde psicológica de sua família e precisou ir para a Região Serrana do Rio, em Teresópolis, onde conseguiu manter os filhos fazendo atividades, aulas online e desenvolver habilidades pedagógicas.
Porém, trabalhando dentro de laboratório, Shihane acabou se afastando da Medicina Veterinária durante um tempo, maior dedicação na área da saúde mental
“Desenvolvemos, eu e a equipe do laboratório, atividades remotas, mas não eram as atividades que eu amava fazer. Eu passei muito tempo fazendo acompanhamento psicológico para tratar os transtornos que eu sofri durante esse período, para me redescobrir como mulher. Parecia que eu tinha virado a máquina que mantinha aquela estrutura domiciliar funcionando. Nesse momento, o acompanhamento psicológico foi de extrema importância para minha saúde mental. Acredito que a nossa profissão exige muito da gente, então eu aconselho a quem pode, quem tem condição de fazer um acompanhamento, que o faça, porque realmente é importante”, contou.
Uma realização significativa em sua carreira foi sua contribuição para a divulgação da medicina veterinária como parte integrante da saúde pública. Shihane dedica-se a palestras em escolas, mostrando a importância da profissão não apenas para a saúde animal, mas também para a saúde humana.
Ao refletir sobre o papel das mulheres na medicina veterinária, Shihane destaca sua visão ampla e empática, capaz de enxergar para além do óbvio. Sua participação em projetos como a futura Associação Brasileira de Médicos Veterinários e Estudantes Pretos ressalta seu papel como exemplo e inspiração para outras mulheres na profissão.
Para Shihane, o equilíbrio entre vida profissional e pessoal passa pelo estabelecimento de limites e pela prática do autocuidado. “O ‘não’ denota amor-próprio e impõe limites”, afirma, destacando a importância de preservar a saúde mental em meio às demandas da profissão.
Sobre as mudanças necessárias para promover a igualdade de gênero na medicina veterinária, Shihane destaca a importância de políticas que incentivem a presença feminina em cargos de liderança. “É necessário que haja vagas determinadas para mulheres e homens”, ressalta, destacando a importância da representatividade dentro do Ministério da Agricultura.
Para Shihane, a chave para impulsionar o desenvolvimento na área está na parceria e na sororidade entre as mulheres. Sua experiência pessoal, como exemplo de superação e apoio mútuo, é um testemunho vivo dessa crença.
Seu conselho para mulheres que buscam seguir uma carreira na medicina veterinária é claro: “Esteja sempre ciente da sua força, da sua competência, não se deixe diminuir”.
Esta matéria faz parte da campanha “A força da mulher brasileira impulsionando o país, a Medicina Veterinária e a Zootecnia”.