Luciana Atayde da Hora (CRMV-RJ 11404) iniciou sua trajetória na Medicina Veterinária em 2002. Ela conta que tinha interesse em grandes animais e animais de produção, porém, na época, enfrentou preconceitos que refletiam uma visão ultrapassada sobre o papel das mulheres na profissão. No entanto, sua determinação em superar esses obstáculos e provar sua competência a levaram a alcançar o sucesso que desfruta hoje, na área de cirurgia geral, endoscopia e otologia de pequenos animais.
“Em sua obra “A dominação Masculina”, o sociólogo francês Pierre Bordieu, descreve uma dicotomia animais de produção/ animais de companhia, grandes animais/ pequenos animais onde baseados nas vivências antigas onde a mulher frágil cuidava da casa e das fragilidades dos seus moradores e o homem forte batalhava, inclusive por meio de guerras pelo alimento e pela defesa de suas posses (dominação). Ainda podemos observar resquícios da aplicação dessa dicotomia nos dias de hoje, no entanto, conseguimos provar nossa capacidade de praticar medicina veterinária com excelência em qualquer setor”, contou.
Segundo a profissional, um dos maiores desafios enfrentados por ela foi a desvalorização por parte de colegas de profissão. Porém, essas situações em que foi substimada serviram como combustível para sua determinação em oferecer um atendimento de qualidade e ético.
Ela ainda conta que uma das realizações mais significativas de sua carreira foi a fundação do primeiro Hospital Veterinário em sua região, em parceria com sua sócia.
“A primeira situação desafiadora foi, ao ver meu primeiro patrão contando o dinheiro para pagar meu primeiro salário como médica-veterinária tive que ouvir: “Lu, você é só uma menininha para receber esse valor todo. Vou te dar a metade e mês que vem a gente vê como fica”, conta.
E continuou: “em outra situação após cobrar muito pelos serviços que prestei na área, recebi um cheque com a seguinte descrição “ valor referente ao pagamento por serviços gerais prestados”. Na primeira situação mostrei que poderia agregar muito mais oferecendo um atendimento de qualidade aos animais o que, obviamente, fez minha carteira de clientes crescer. Na segunda, tive o privilégio de anos depois, ouvir de um dos responsáveis do estabelecimento dizer que queria trabalhar/ estagiar comigo pois ele queria se aprofundar mais em uma área de conhecimento que eu estava atuando.
Estudar muito, trabalhar com amor e manter sempre a ética nas relações certamente é o segredo para superar qualquer situação”, acrescentou.
Para Luciana, o papel das mulheres na Medicina Veterinária e Zootecnia vai além do exercício da profissão. Elas desempenham um papel fundamental na sociedade, garantindo a saúde e o bem-estar dos animais, além de contribuírem para o desenvolvimento do país por meio de pesquisas e inovações na área.
Além de sua atuação profissional, Luciana também se destacou por seu engajamento comunitário, coordenando centros de atendimento clínico e cirúrgico gratuitos e realizando palestras em escolas para conscientizar sobre o respeito e cuidado com os animais.
Encontrar o equilíbrio entre vida profissional e pessoal nem sempre é fácil para Luciana, que se descreve como uma pessoa visionária e workaholic, além de empresária e mãe. No entanto, ela reconhece a importância de cuidar da saúde mental e encontrar momentos de lazer com seus entes queridos.
Para o futuro da Medicina Veterinária e Zootecnia no Brasil, Luciana acredita que as mulheres têm um papel fundamental a desempenhar. Elas devem continuar se dedicando aos estudos, buscando especialização e contribuindo para a pesquisa e inovação na área.
“A medicina veterinária, historicamente criada para empregar homens principalmente nos cuidados com cavalos dos exércitos e de animais de produção, hoje tem quase 50% de seu quantitativo profissional formado por mulheres. Estamos na pesquisa desenvolvendo vacinas, medicamentos e melhoramento genético; garantimos a qualidade dos alimentos de origem animal; garantimos a sanidade animal dos rebanhos e dos animais de companhia assim como seu bem-estar. Cuidamos da família multiespécie com carinho e muito profissionalismo”, disse.
E finalizou com conselho: “Estudar, se dedicar muito e se especializar! A medicina veterinária precisa de nós e nós podemos dar o nosso melhor por ela!”.
A história de Luciana Atayde da Hora faz parte da campanha “A força da mulher brasileira impulsionando o país, a Medicina Veterinária e a Zootecnia”.